Sustentabilidade Global: O Planeta Terra grita por socorro, mas ainda existem saídas para evitar a autodestruição.
Durante séculos, os homens consumiram os recursos do planeta, cobriram-no de lixo e simplesmente seguiram adiante quando um manancial secava ou um canto remoto da propriedade ficava poluído. Graças aos avanços na Saúde Pública, à Revolução Industrial e, mais tarde, à Revolução Verde, a população mundial saltou de cerca de 1 bilhão de pessoas em 1800, para quase 7 bilhões hoje. Alimentada pela riqueza, a utilização de recursos também atingiu níveis assustadores. Em 50 anos, o consumo global de alimentos e água doce triplicou e o de combustíveis fósseis quadruplicou. Passamos a viver em um planeta “lotado”, com recursos limitados e pouca capacidade para absorver o lixo.
Mas agora os recursos que proporcionaram esse crescimento vertiginoso estão se esgotando. Cientistas, pensadores sociais e o público global estão compreendendo que a humanidade transformou o planeta natural em um mundo industrializado e, se quisermos sobreviver, precisamos fazer uma nova transição: para a sustentabilidade. Mais do que nunca, se faz necessária a tomada de medidas que garantam nosso funcionamento dentro de um “espaço operacional seguro” de nossos ecossistemas. Se não revisarmos nossas atitudes, provocaremos mudanças catastróficas, com possíveis conseqüências desastrosas para a humanidade.
Uma equipe internacional de cientistas – chefiada por Johan Rockström, do Centro de Resiliência de Estocolmo – procurou, por meio de diversas pesquisas, responder á seguinte questão: Estamos nos aproximando de “pontos críticos” planetários, que lançariam o meio ambiente global em um perigoso território novo, diferente de tudo o que já foi visto na história humana? Esses cientistas, após analisarem inúmeros estudos interdisciplinares de sistemas físicos e biológicos, determinaram oito processos ambientais que têm o potencial de arruinar a capacidade do planeta de sustentar vida humana.
Após identificados esses oito processos ambientais imprescindíveis para a existência da vida humana no Planeta Terra, definiram-se alguns limites – uma faixa dentro da qual a humanidade pode operar em segurança. Os oito processos ambientais que precisam de atenção urgente e que foram identificados por essa equipe de cientistas, a saber, são os seguintes: 1 ) Perda de Biodiversidade; 2 ) Emissão de Aerossóis; 3 ) Mudanças Climáticas; 4 ) Acidificação Oceânica; 5 ) Redução do Ozônio Estratosférico; 6 ) Desequilíbrio nos Ciclos do Nitrogênio e Fósforo; 7 ) Utilização de Água Doce; 8 ) Utilização da Terra.
Três desses oito processos ambientais já tiveram seus limites extrapolados: a perda de biodiversidade, a poluição de nitrogênio e a mudança climática. Dentre esses três processos ambientais que já excederam os limites definidos como seguros para a existência humana, a perda de biodiversidade é o caso mais crítico, pois excede, em muito, os limites. O limite para redução do ozônio atmosférico também já foi bastante extrapolado, e a Mudança Climática ultrapassou apenas um pouco do limite seguro, é um processo o qual ainda há tempo de ser revertido.
O trabalho feito pela equipe de Rockstrom suscitou um saudável debate científico. De modo geral, o trabalho foi bem recebido e visto como o que pretendeu ser: um experimento complexo para tentar definir perigosas linhas "instransponíveis" para o mundo. A análise, além de identificar os principais problemas ambientais causados pelo homem e os limites que o planeta suporta, prevê os principais problemas trazidos pela extrapolação desses limites, bem como propõe soluções para amenizar cada um dos problemas. Segundo a análise: "permitir que processos ambientais excedam certos limites pode ter graves implicações, mas algumas ações decisivas conseguem mantê-los dentro de esferas seguras."
A seguir, um breve resumo do que foi identificado como consequencia da extrapolação dos limites e do que foi apontado como possível solução:
1) Perda de Biodiversidade. O processo com o limite mais extrapolado de todos. Para termos uma idéia, as taxas de extinção antes da Era Industrial, em milhões de espécies por ano eram entre 0,1 e 1,0. Hoje, essa taxa excede o número de 100 milhões de espécies por ano! Muito acima do limite compatível com a existência saudável do homem no planeta, que prevê o desaparecimento de, no máximo, 10 milhões de espécies em um ano. Com as taxas de extinção de espécies tão altas, as consequências imediatas são o colapso de ecossistemas terrestres e oceânicos. Um ecossistema colapsado, traria um desequilíbrio entre suas populações constituintes aumentando em muito populações de bactérias nocivas ao homem ou diminuindo a produção de oxigênio dos oceanos, por exemplo! As possíveis soluções para esse problema seriam: Redução do desmatamento e desenvolvimento de terras, contratação de serviços de ecossistemas. Os serviços de ecossistema são caracterizados como um conjunto de muitas áreas naturais protegidas e amplamente espalhadas que garantiriam a nossa segurança alimentar, água limpa, estabilidade climática, peixes e frutos do mar, madeiras e outros serviços biológicos e físicos. Enquanto não houver mobilização e ação imediata de governos, organizações de desenvolvimento, corporações e comunidades no sentido de ajudar as nações a construir economias mais duráveis, conservando simultaneamente serviços ecossistêmicos vitais, estaremos sujeitos aos colapsos ecossistêmicos e suas graves consequências.
2) Desequilíbrio no ciclo do Nitrogênio - A aplicação de fertilizantes químicos alterou acentuadamente o fluxo de nitrogênio ao redor do globo. Além disso, a queima de combustíveis fósseis e a utilização de biocombustíveis de etanol, a base de milho, agrava muito o problema. As consequencias imediatas desse desequilíbrio são a expansão das zonas mortas oceânicas e de água doce, além dos problemas com a produção de alimentos. (Pois todas as plantas precisam desse elemento químico para completar seus ciclos de vida.). As soluções possíveis seriam: redução da utilização de fertilizantes químicos; processar dejetos animais e adoção de veículos híbridos. Existem também algumas lavouras de cobertura, que ajudam a evitar a perda de nitrogênio do solo, por lixiviação. As lavouras de cobertura mais utilizadas são as de centeio e trigo.
3) Desequilíbrio no ciclo do Fósforo - Outro desequílbrio ambiental causado pela aplicação de fertilizantes químicos nos solos.De acordo com os índices de consumo atuais, as reservas prontamente disponíveis de fósforo, durarão menos de um século. Nitrogênio e Fósforo despejados em excesso no meio ambiente, causam intensa poluição da água, degradam numerosos lagos e rios e afetam áreas oceânicas litorâneas ao criar extensas "zonas mortas" hipóxicas, ou seja esse tipo de poluição interrompe as cadeias alimentares oceânicas. As possíveis soluções apontadas para contornar o problema são: Reciclagem e reutilização de pelo menos 72% do fósforo disponível; redução do fluxo de fósforo no meio ambiente com aplicação de técnicas agrícolas que evitem a lixiviação, como o plantio direto, por exemplo; e o processamento de dejetos animais e humanos.
4) Mudança climática - É irreversível. O gelo polar já está derretendo e as consequencias das mudanças climáticas, causadas principalmente pelo efeito estufa, já são sentidas em todo o globo. Entretanto, algumas saídas para minimizar os impactos são apontadas. Dentre essas saídas estão a adoção de energias e combustíveis de baixo teor de carbono e o apelo ao bolso de quem polui, ou seja, a adoção de políticas climáticas baseadas em preços, como por exemplo, taxa para gás de efeito estufa aplicada a toda a economia. Outra possibilidade seria a adoção do sistema "cap-and-trade", um sistema em que as permissões de emissões são comercializadas a preços que aumentem com o tempo. Uma faixa de preço regulamentada manteria o custo das emissões suficientemente alto para obter reduções ambiciosas.
5) Má utilização da Terra - Causada pela agricultura mal planejada e excessiva, leva a perda total da capacidade produtiva do solo, a desertificação. As principais consequências apontadas em se extrapolar a capacidade produtiva do solo é que os ecossistemas começam a falhar e o dióxido de carbono escapa. As soluções plausíveis seriam a limitação da expansão urbana; a melhoria da eficiência agrícola e a adoção de serviços de ecossistemas. Segundo o relatório: "Também se podem poupar mais terras para a Natureza ao converter em leis rigorosas políticas de "reserva", como fez a União Européia. Alguns países em desenvolvimento (China, Vietnã, Costa Rica) conseguiram fazer a transição do desmatamento para o reflorestamento. Isso ocorreu graças a um melhor gerenciamento ambiental e a uma forte determinação para modernizar o uso da terra.
6) Acidificação Oceânica - Seria um "primo menos conhecido" da mudança climática. À medida que as concentrações atmosféricas de CO2 aumentam, a quantidade de dióxido de carbono que se dissolve na água em forma de ácido carbônico cresce, deixando a superfície oceânica mais ácida. Os oceanos são naturalmente neutros, com um pH de aproximadamente 8,2, mas os dados mostram que esse valor já caiu para quase 8 e continua baixando. Muitas criaturas, de corais a uma infinidade de fitoplânctons, que constittuem a base da cadeia alimentar oceânica - dependem do pH neutro dos oceanos para continuarem vivos. As consequencias imediatas desse problema são: a morte de microrganismos e corais e a diminuição da precipitação de carbono (o carbono se precipita na forma de carbonato de cálcio, constituinte fundamental de esqueletos, conchas e carapaças. As soluções apontadas são semelhantes com a de outros problemas de impacto ambiental: a adoção de energia e combustíveis de baixo teor de carbono e a redução do escoamento superficial de fertilizantes.
7) Utilização de Água Doce - Ao redor do globo, retiramos anualmente assombrosos 2.600 km3 de água de rios, lagos e aquíferos para a irrigação (70%), a indústria (20%) e o uso doméstico (10%). Em consequência, muitos rios caudalosos tiveram seu fluxo reduzido; outros estão secando por completo. Os ecossistemas aquáticos estão colapsando e o suprimento de água doce diminuindo. As saídas para esse problema seriam: a melhoria na eficiência da irrigação e a instalação de dispositivos de baixo fluxo de água.
8) Redução do ozônio estratosférico - Esse problema é um velho conhecido de ecólogos e ambientalistas. Causada por excesso de aerossois lançados na atmosfera, a redução da camada de ozônio tem por principais consequências a exposição de seres humanos, plantas e animais à radiações nocivas. Como possíveis resoluções para o problema foi apontado a eliminação dos hidroclorofluorcabonos (HCFCs), que só se consolidará, de fato , no ano 2030 e a adoção de novas substâncias químicas que exerçam as mesmas funções que os aerossóis mas sem prejudicar a camada de ozônio.
Os cientistas que fizeram essa análise sofreram algumas críticas quanto a imposição de certos limites suportáveis pelo planeta. Segundo os críticos, esses limites poderiam ser interpretados como "oba, podemos poluir e impactar o meio ambiente, desde que estejamos dentro dos limites seguros!" O artigo no qual me baseei para escrever essa matéria deixa bem claro que não é nada disso. Os limites são definições técnicas, aceitas por alguns e refutadas por outros. Não quer dizer que precisamos nos basear neles para gerir nosso relacionamento com o planeta.
É claro que boa parte da resolução desses problemas está na mão do poder coletivo, das organizações e do governo. Muitas resoluções dependem da implementação de novas políticas públicas, de uma nova maneira, mais inteligente, de se pensar, de agir e de governar. Mas enquanto esse governo perfeito continua no campo utópico, acredito que os esforços pessoais e mudanças de hábito ainda são as melhores maneiras de contribuir para a sustentabilidade do planeta.
Me desculpem queridos, ainda estou aprendendo a mexer nisso e essa postagem ficou meio escandalosa. A próxima será mais suave!
ResponderExcluirÓtimo, muito bom :D
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