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Mostrando postagens de 2014

Corpo sem órgãos

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Talvez eu queira estourar meus pulmões de tanto fumar. Derreter o fígado de tanto beber. Arrebentar a laringe de tanto gritar. Abarrotar o estômago de tanto comer, estraçalhar o coração de tanto quebrar, entortar a coluna de tanto andar, lotar o cérebro de muito estudar, os olhos se gastarem de tudo querer ver, os dedos se cortarem de tudo querer fazer. Estou e sempre estive mesmo sem saber que estava, em busca do Corpo sem Òrgãos. Artaud pensou nessa ideia em 1947 quando resolveu se opor aos órgãos, pois esses traziam peso, confusão e ao se integrarem a um organismo passam a ser instrumentos controláveis. Baseado nessas ideias, Gilles Deleuze e Felix Guatari desenvolveram o conceito de Corpo sem Òrgãos (CsO) em suas obras O anti-édipo e Mil Platôs (Vol. 3 Como criar para si um corpo sem órgãos).  O Corpo sem Òrgãos está na imanência do desejo, é potência criadora. Ele não é um espirito, não está pronto e ao mesmo tempo é pré-pronto. É o que se preenche por intensidades e material

Círculo do Bakhtin: Capítulo II O biólogo Kanaev e Bakhtin

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                           O campo da Biologia ocupava uma posição de certa proeminência na União Soviética durante os anos 20. A relação entre a teoria da Evolução e o Marxismo eram intensamente debatidas e questões biológicas pairavam amplamente entre os marxistas e demais partidos russos. De acordo com Zhores Medmedev, o período entre 1922 e 1928 constitui os "anos de ouro" da ciência russa. Sob a nova política econômica de Lenin, houve um acréscimo significativo nos fundos disponíveis para pesquisa científica e educação, e uma explosão semelhante nas publicações científicas. No final dos anos 20 os primeiros expurgos contra cientistas começaria e a ciência entrava em um período de crise crescente. Com a ascensão do Lysencoismo, os anos 30 veriam uma aceleração dessas medidas, além do contato cortado entre a ciência soviética e suas contrapartes estrangeiras. Mas no começo dos anos 20 os cientistas soviéticos eram conhecidos por estarem na ponta de áreas como pesquisa ge

Um pouco de Filosofia da Biologia

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                    I ndependentemente de acreditar em Deus ou em Darwin, eu consigo crer na Vida! Observando aqui o padrão de crescimento de uma muda de espada de São Jorge que minha mãe me deu, uma muda que agora já está até grandinha, mas que começou como um pedaço de planta que foi retirado de outra planta que é cultivada há exatos 31 anos, desde que nasci, comecei a refletir sobre o quanto a Vida está acima de tudo, o quanto se faz presente nesse planeta, estando conectada geração após geração, desde uma célula primitiva, coacervada, nos primórdios do planeta até os dias de hoje, numa cabeça pensante que reflete sobre si mesma ou numa planta com a incrível capacidade de crescer a partir de um pedaço de si mesma, e tudo isso através de uma ligação qu e todos nós, seres viventes, temos desde o início dos tempos: o DNA. Eu sento, bebo um café e fico silenciosamente conversando com essa plantinha, que é praticamente uma versão vegetal de mim mesmo. Tão bonito o padrão de crescimen

A História do Corpo - parte II - Corpo e Mídia

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                  Nós temos alguma espécie de câmera ou olho interno que nos permite ver o próprio corpo e os processos que ocorrem dentro dele ou construímos esses modelos mentais a partir das representações, desenhos, imagens, aulas e observações com que interagimos?           As representações são convenções visuais, signícas que expressam alguma realidade ou esquematizam algum modelo científico.        "Para Jodelet (1986) e Moscovici (1978), as representações sociais são formas de conhecimento do mundo, construídas a partir do agrupamento de conjuntos de significados que permitem dar sentido aos fatos novos ou desconhecidos, formando um saber compartilhado, geral e funcional para as pessoas, chamado de senso comum. Jodelet (1984) enfatiza a importância do estudo do corpo a partir da perspectiva das representações sociais, pois estas assumem um papel importante na elaboração de maneiras coletivas de ver e viver o corpo, difundindo modelos de pensamento e de comportamento

A HISTÓRIA DO CORPO - parte I

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                   Falar sobre o corpo humano abrange um leque vasto de assuntos, que de uma forma ou de outra é do interesse de todos, afinal, todos habitam em um. Médicos, educadores físicos, esportistas e alguns ramos da Biologia se preocupam com maior especificidade com esse tema, mas o tema perpassa todas as áreas, já que todas as áreas são feitas por pessoas e estas estão em seus corpos.                      Mas.... que corpo humano o professor de Biologia quer, pode e deve mostrar em sala de aula? As representações do corpo humano que conhecemos são meramente arbitrárias ou realmente descrevem a realidade? Um atlas anatômico faz uma pessoa conhecer melhor seu organismo, como este funciona e como posicioná-lo no mundo?             O filósofo francês Michel Foucault em O nascimento da clínica  remonta a história de como a medicina percebe o corpo e sua relação com as doenças ao longo dos períodos históricos. No século XVI as doenças eram consideradas entidades que se aproxima