Mirmecocoria todo dia!

Então, é o último semestre em que vou fazer essa pesquisa. A realização é um pouco complicada e o tempo é curto. Desculpe-me caros leitores, mas esse assunto irá aparecer várias vezes aqui no Red Mosquito!

Encontrei um artigo que é bem específico para o que eu estou querendo fazer. É um teste da teoria da fuga do predador (maiores explicações vejam posts anteriores) ao longo de um gradiente geográfico maior (quer dizer uma área extensa, uma região). Esse teste foi feito em uma região de portugal e contemplou a interação mutualística das formigas com uma espécie arbustiva chamada Heleborus foetidus. Infelizmente, o teste foi feito numa espécie arbustiva. Como expliquei em outro post, praticamente ninguém no mundo fez esse teste para a interação mutualística que existe entre as formigas e as árvores tropicais. E é por isso que está sendo difícil, são poucas referências e metodologias nas quais se basear para fazer o experimento.

Mas esse artigo, de um autor chamado Manzaneda, me trouxe algumas informações bacanas. Eles isolaram algumas áreas e separaram cerca de vinte sementes em cada sítio (uma área determinada para se fazer um estudo). Em alguns sítios as formigas tinham acesso à semente, em outras não. (Ele fizeram meio que o contrário do que me propus a fazer. Eu pretendo isolar o acesso dos predadores às sementes, mas o Manzaneda e seus colaboradores isolaram a semente das formigas e permitiram que os predadores, no caso desse estudo da Península´Ibérica, tivessem acesso às 20 sementes previamente marcadas.).

O que esse artigo me trouxe de bacana foi o estudo e a observação do que acontece realmente com as sementes depois que elas são levadas pelas formigas. Os autores concluem que o destino das sementes passa por um processo que em Biologia chamamos de espécie-espécifico, ou seja, para cada espécie (seja de formiga ou espécie vegetal) a coisa funcionará de um modo diferente. No caso da espécie pesquisada nesse artigo, os autores quase refutaram a hipótese da fuga do predador, porque eles notaram que o fato das sementes serem levadas até o ninho das formigas não necessariamente evita a predação. O ninho das formigas, segundo os autores não é um local seguro para as sementes (Mas seria interessante investigar se isso se aplica a várias espécies mirmecocóricas ou apenas à espécie arbórea que os autores pesquisaram). O ninho não é seguro, porque em muitos casos se encontra dentro da zona de forrageamento dos roedores, ou seja, dentro daquela área na qual o roedor tem o hábito de procurar alimento. E uma vez dentro da área de forrageamento da espécie, um roedor no caso em questão, ele não vai ter o menor pudor de cavar, fuçar o ninho de formigas para catar uma deliciosa e nutritiva semente. Mas no estudo do Manzaneda, no qual a hipótese da fuga do predador foi testada em vários locais, em um dos locais o ninho foi considerado seguro, porque não se encontrava próximo da área de forrageamento de nenhuma outra espécie. Só que na natureza, numa comunidade estabelecida, saudável, no estágio que chamamos de clímax, existem várias espécies que convivem simultaneamente, portanto, é bem possível que na maior parte dos casos o ninho não seja um lugar muito seguro, apesar de que, em muitos casos, é um local com solo fértil que facilita a germinação da semente (e não me perguntem como que a formiga sabe disso!!!).

Por outro lado, Manzaneda e colaboradores, observaram também o comportamento que as formigas têm de enterrar algumas sementes e na maior parte dos casos investigados, esse comportamento foi útil para evitar os predadores.

Outra coisa que achei interessante e importante desse artigo: Os pesquisadores não encontram uma correlação direta entre a proporção de sementes que permaneciam nos sítios que eles armaram para fazer o teste e a densidade populacional dos roedores predadores estudados. Em outras palavras: se houvesse uma densidade populacional alta, com muitos roedores numa área não muito extensa, isso não significaria, necessariamente, que haveria uma quantidade maior de sementes predadas!!

Conclusão? Mistério, mistério e mais mistério!!! São várias evidências a favor e várias contra a veracidade da hipótese!

Até a próxima!


FONTE: MANZANEDA A. J. FEDRIANI J. M. , REY P. J. - Adaptative advantages of myrmecochory: the predator-avoidance hypothesis tested over a wide geographic range.

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