Círculo do Bakhtin: Capítulo II O biólogo Kanaev e Bakhtin

               
           O campo da Biologia ocupava uma posição de certa proeminência na União Soviética durante os anos 20. A relação entre a teoria da Evolução e o Marxismo eram intensamente debatidas e questões biológicas pairavam amplamente entre os marxistas e demais partidos russos. De acordo com Zhores Medmedev, o período entre 1922 e 1928 constitui os "anos de ouro" da ciência russa. Sob a nova política econômica de Lenin, houve um acréscimo significativo nos fundos disponíveis para pesquisa científica e educação, e uma explosão semelhante nas publicações científicas. No final dos anos 20 os primeiros expurgos contra cientistas começaria e a ciência entrava em um período de crise crescente. Com a ascensão do Lysencoismo, os anos 30 veriam uma aceleração dessas medidas, além do contato cortado entre a ciência soviética e suas contrapartes estrangeiras. Mas no começo dos anos 20 os cientistas soviéticos eram conhecidos por estarem na ponta de áreas como pesquisa genética. 
             Kanaev foi um biólogo e membro do novo círculo de Bakhtin, agora em Leningrado.

O próprio trabalho de Kanaev era inicialmente sobre genética, história da ciência e a biologia da hidra. Como estudante da Universidade de São Petersburgo, ele estudou genética com Iiuri Filipchenko. Junto com Nicolai Vavilov, Nicolai Kol stoi, Filipchenko e Chetiverikov, era nos anos 20 um dos principais pesquisadores em genética na União Soviética.
           Bakhtin e Kanaev se tornam amigos quando Bakhtin se muda para Leningrado, cidade em que Kanaev trabalhava como cientista. Eles frequentavam os mesmos círculos intelectuais e por três anos Bakhtin alugou uma casa do senhor Kanaev, que permaneceu se correspondendo com Bakhtin durante os anos de seu exílio e morte.
              Kanaev publicou um artigo com a teoria do vitalismo, que viria a influenciar a obra de Bakhtin. A teoria na verdade é inteiramente escrita por Bakhtin (Holquist). O vitalismo é uma ideia que remonta à Grécia antiga, mas voltou a ser difundida no século XIX. Basicamente é uma ideia que diz que todo ser vivo é animado por uma força intrínseca, essencial. Bakhtin já achava estranhas essas noções e pensava que os fenômenos do organismo poderiam ser reduzidos à reações químicas e à física. Vitalistas como Driesch pensavam que a vida surgia de forma abiogênica, e Driesch tentava utilizar o celenterado Hydra (que tem capacidade de se reconstituir e Driesch acreditava que era por ter uma força vital extra corpórea), enquanto o Bakhtin com seus charutos e seu olhar mais contido pensava com proximidade do que é pensado pela ciência hoje : para ele a hidra tem uma incrível capacidade de auto-regulação. Bakhtin achava o pensamento de Driesch ingenuo, pois explicava o crescimento e funcionamento dos organismos como se fossem máquinas movidas por essa força imaterial. Esse ponto de vista não pode explicar toda a dinâmica dos processos da vida, pois a explica em termos mecânicos e estáticos.  Se Bakhtin achava a visão do vitalismo sobre a vida muito fraca, qual era então a visão dele? Ele considerava a neutralidade. Neutralidade a ponto de ser uma abordagem positivista.
               Bem, o Kanaev fez uma porção de trabalhos com a hidra e ajudou Bakhtin a provar que o vitalismo não era verdade.





FONTE:
THE BAKHTIN CIRCLE :  IN THE MASTER ABSENCE -


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